Saiba
também, ó príncipe, naquele mesmo dia em que o Cimério atacou o Reino
Hiboriano, uma das poucas mulheres dignas de portar uma espada, era Sonja, a
Vermelha, uma mulher guerreira, que seria a majestade de Hirkânia. Foi forçada
a fugir de sua pátria, pois ela rejeitou os avanços de um rei e o matou; ela
seguiu para o oeste através das estepes de Turan e nas névoas negras de
Legendry.
Era
uma tempestade. Uma tempestade com ventos vermelhos. Fogo e espadas estavam nela.
Quando chegou, era uma floresta. Quando partiu, restara uma única árvore. Eu
sou aquela árvore. Meu nome é Jessa. Esta não é a minha história, mas a
história de uma tempestade, uma tempestade vermelha...
Ela
era branca e vermelha, como a areia sobre o fogo. A tempestade a trouxe até
aqui, se eu soubesse, teria fugido...ou envenenado sua bebida. Todavia...
-
Aqui nós temos um pouco de tudo – eu disse pra ela – Até um pote para goteiras,
pena que ele encha rápido.
Ela
deixou cair sobre o balcão cinco peças de cobre.
-
Então o mantenha sempre vazio.
Sua
voz era firme, decidida. Enchi um copo de cerveja.
-
Você está de passagem ou vai ficar?
A
outra não respondeu. Olhou para o sacerdote sentado nos fundos da taverna. O pobre
diabo quase estragou tudo. Guardou a adaga bem a tempo.
-
De passagem, eu posso dizer – Empurrei o copo de cerveja para ela.
-
Uma profeta ou uma pessoa normal?
Passei
levemente os olhos pelo corpo seminu da guerreira hirkâniana.
-
Eu percebo coisas. Você está voltando do trabalho. Você é uma mulher forte, não
teme os homens...Você é uma guerreira...ou pior. Você está viajando há muitas
milhas. Vinda de...uma batalha.
Ela
estava me olhando com aqueles olhos verdes severos. Notei logo o quanto ela era
impaciente. Engoli seco, peguei uma tigela de pães.
-
Eu... eu posso estar errada... vamos, pegue um pão, é um presente.
Um
bêbado se levantou com um copo de cerveja nas mãos e começou a bradar:
-
Clamem pelos guerreiros, clamem pelos que tombaram... clamem pelos heróis...
clamem pelas batalhas perdidas e vencidas.
-
E clamem pela mãe e seu filho agonizante – sussurrou Sonja.
O
bêbado deixou o copo e saiu xingando baixinho. Eu agradeci por ela ter ficado
quieta em seu lugar. Pensei que sacaria a adaga e mataria o idiota. Mas não,
sorveu até a última gota de cerveja.
-
Desculpe – eu disse – a cidade está... vazia. A maioria dos homens foram
recrutados. Eles partiram...
Em
partes, era verdade. Muitos tinham morrido naquele dia. Os sacerdotes estavam
cortejando o corpo de um nobre senhor. Tinham passado pouco antes de ela
aparecer, em frente à taverna com suas vestes rochas, segurando tochas e
estandartes do deus Borat-Na Fori.
-
Jessa! Cala a boca e me sirva! – gritou o sacerdote que estava sentado nos
fundos - Sua mulher relaxada! Sua língua é profana! Você não sabe o que está
falando. Você não sabe que uma noite sem fim, cai após um dia de sangue?!
Corri
para encher um copo de cerveja. Para meu espanto, Sonja se ofereceu para servir
o sacerdote. Ela foi muito simpática e conversamos por um longo tempo. Depois
que todos tinham ido embora, somente Sonja restara. E estava bêbada e soluçava
como uma porca.
-
Jessa, mais uma... hic... eu ainda estou com sede.
-
Obrigada ruiva, se não fosse por você, eu estaria sem trabalho.
-
Não me agradeça ainda... hic.
Depois
apagou.
Eu
não sei por que eu fiz aquilo. Eles disseram que me machucariam se não fizesse.
Mas, os homens que pediram isso, vieram antes. Uma parte de mim quis fazer aquilo.
Uma parte que permanece aqui. Uma parte de mim, que hoje reza pela saúde deles
no dia do sacrifício.
Nós
dissemos a um guerreiro. A tempestade está em sua alma. Mas ela estava bêbada.
A tempestade morreu nela... e agora, ela também morreria. Pelo menos foi assim
que eles disseram. Falando como homens de guerra, como aqueles que sabem dessas
coisas. Nós pensávamos que estávamos de olho na tempestade... Mas, os ventos
mudaram e o olho se foi. O momento da agitação passou, só restou o vento, a
tempestade vermelha, a chuva vermelha... RED SONJA. Ela viu quem nós éramos. Oh
deus, ela nos julgou.
E
não houve nenhuma clemência por parte dela. ela permitiu-me viver, mas não por
clemência. Veja, ela até me deu a faca dela, que haviam me prometido. E ela me
deu a vida... como se soubesse que viver agora, neste lugar, era a pior coisa
que eu poderia desejar.
Era
uma tempestade. Uma tempestade com ventos vermelhos. Fogo e espadas estavam
nela.
Quando
chegou, era uma floresta, quando partiu, restara uma única arvore. Eu sou esta
árvore.